quinta-feira, 26 de março de 2009

Artigo muito interessante sobre "inteligencia" animal

ANIMAIS QUE RESPONDEM "INTELIGENTEMENTE" 

O comportamento extraordinário de certos animais chamou muito a atenção dos cientistas no começo do século passado. 
Em 1892 um velho oficial alemão, aposentado, Wilhelm von Ostem, adquiriu um cavalo chamado "Hans", ao qual ensinou a "fazer" diversas operações aritméticas por meio de quilhas e depois de números. Adições, subtrações e até extração de raízes quadradas foram feitas. A pergunta fazia-se verbalmente; o cavalo respondia batendo com o pé no chão um número determinado de vezes, segundo fosse o resultado do problema. 
Mais ainda: perguntando sobre algum problema simples da vida ordinária, o cavalo batia no chão tantas vezes quantas fossem os números do lugar que ocupava no alfabeto cada uma das letras necessárias para escrever a resposta.
Ostem, excêntrico, considerado por muitos como autêntico maníaco, não conseguia chamar a atenção do mundo científico sobre seu "inteligente" cavalo. Desesperado, anunciou num jornal as fabulosas qualidades de Hans, prometendo aos compradores umas demonstrações gratuitas das qualidades do animal. Foi assim que o major Eugen Zobel, escritor, profundo conhecedor de hipologia, começou a publicar artigos sobre o "talento" do cavalo Hans. A partir do então, o nº 10 da Rua Griebenow, em Berlim, viu-se assediado continuamente por curiosos, e também por sábios que queriam investigar o prodígio.
Em 1904, no mês de setembro, uma primeira comissão científica composta de professores de Psicologia, Fisiologia, Zoologia, Veterinária e especialistas em Equitação e Adestramento de Animais, estudou detidamente o caso, com o concurso também de oficiais de cavalaria, assim como do diretor do Jardim Zoológico e do diretor do Circo Busth. A comissão só chegou à conclusão de que o caso devia ser tomado muito a sério e que se deveria investigar cientificamente e devagar pois talvez se chegasse a conclusões que revolucionariam os postulados até então admitidos sobre o comportamento animal. 
Um mês mais tarde, em outubro, nova comissão científica, nomeada pelo Ministério de Educação, estudava o cavalo Hans, já conhecido em todo o mundo como "der kluge Hans" (o João inteligente). 
A comissão científica, presidida pelo Dr. C. Stumpf, diretor do Instituto de Psicologia da Universidade de Berlim, declarou, depois de metódicos estudos, que o fenômeno era devido simplesmente à percepção hiperestésica por parte do cavalo, de movimentos inconscientes realizados por seu dono ou os assistentes, movimentos não percebidos pelo homem. O cavalo Hans batia no chão ininterruptamente tão logo percebia que lhe faziam uma pergunta, até que algum espectador lhe fizesse o sinal de deter-se, sinal, repetimos, mínimo e inconsciente. 
Já antes em 1903, Albert Moll, presidente da Sociedade de Psicologia de Berlim, chegara à mesma conclusão. Agora, porém, Pfungst, que com Hornbosten era assistente do Dr. Stumpf, demonstrava experimentalmente os movimentos que ninguém enxergava e que todos negavam produzir. Pfungst imaginou e construiu um aparelho de amplificação de movimentos muito engenhoso. Amplificados, os movimentos ficavam registrados sobre um cilindro. Sem ouvir ele próprio a pergunta, o professor percebia o momento exato em que o cavalo deveria parar de golpear. 
Vimos no artigo anterior que a linguagem fisiológica, os sinais inconscientes correspondentes às idéias, são automáticos, inevitáveis. Assim não será de estranhar que, tanto o cavalo como o professor Pfungst com seu aparelho, respondessem inclusive as perguntas que não eram formuladas verbalmente, mas só pensadas. A idéia implica sinais inconscientes externos que, captados ou ampliados pelo aparelho, eram percebidos pelo prof. Pfungst ou pelo cavalo Hans. E guiavam-se por esses sinais. O cavalo, com os olhos vendados, não dava a resposta exata: batia com o pé até cansar-se. 
Ruiu o mistério: von Ostem morria , abatido e desiludido, em 1909.

OS CAVALOS DE ELBERFELD

Os cavalos, porém, que verdadeiramente revolucionaram o mundo científico, foram os famosíssimos cavalos de Elberfeld. O Dr. Claparède, da Universidade de Genebra, qualificou o surpreendente fato como "o mais sensacional acontecimento jamais surgido na Psicologia".
"Munito" o "Cachorro Inteligente". Afirmavam
que sabia geografia, botânica e história natural.
O rico industrial Karl Krall, que em 1906 recebeu de presente o cavalo Hans, decidiu ensinar a outros cavalos as mesmas operações que realizara Hans, mas em condições mais espetaculares. Empregou muito tempo, dinheiro e engenho. Conseguiu no fim que quatro cavalos parecessem inteligentes. Eram dois cavalos árabes, Muhamet e Zarif; um pônei, Hanschen e um velho cavalo cego, chamado Barto. 
A literatura e as polêmicas que surgiram por causa destes cavalos, mormente após o livro publicado pelo seu proprietário, é enorme. Os mais famosos sábios da época foram a Elberfeld para estudar a "inteligência" dos cavalos. Muitos sábios e comissões científicas chegaram a defender essa inteligência nos cavalos, ou, ao menos, a telepatia. Já então se usava esse nome hoje reservado pelos especialistas em Parapsicologia para a adivinhação extrasensorial, espiritual. 
Experiências conduzidas com o mais severo controle científico concluíram, é verdade, pela existência da fraude em algumas ocasiões, quando, por exemplo, um cuidador dos animais se ocultava dos investigadores, ficando, porém, visível ou perto dos cavalos. Charles Richet protestou contra toda suposição de fraude inconsciente ou consciente, baseando-se, como argumento principal, em que a resposta às vezes se dava em poucos segundos. O melhor calculador não poderia encontrar tão rapidamente a raiz quadrada de 456.776 ou a raiz cúbica de 15.376 como os cavalos fizeram em certas ocasiões diante do Dr. Claparède. Ora, esta objeção de Richet, seria mais um argumento em prol da fraude: não vamos supor mais inteligência nos cavalos do que no homem...

O CÁLCULO DAS RAÍZES 

Calculavam os cavalos, superando em rapidez aos sábios? Há métodos especiais para extrair as mais complicadas raízes, métodos que desafiam os melhores matemáticos e superam inclusive as máquinas calculadoras. Métodos especiais, reservados aos "iniciados" (os mágicos), mas sem truque. 
O Dr. Maeterlinck ficou surpreendidíssimo ao comprovar que uma vez em que o cavalo Muhamet não respondeu, era porque o número que lhe propunha não tinha raiz quadrada exata. Ora, isto mesmo sucede aos "iniciados", que só podem extrair, pelos seus métodos, raízes dos números que a têm exata. Dos demais, só por aproximação, ou com métodos mais complicados e menos rápidos sem que por isso deixem de ser espetaculares.
Devemos notar que a atividade aritmética é na realidade bastante simples, alheia à inteligência posto que pode ser realizada por máquinas. Mas não quer dizer que os animais sejam capazes de extrair raízes quadradas! Queremos dizer que não seria difícil ao rico senhor Krall encontrar alguma pessoa que conhecesse este mecanismo simples, que é guardado com desvelo pelos ilusionistas, pelos "iniciados".
O método pode ser praticado inclusive por pessoas pouco inteligentes.
Fleury, cego, degenerado, quase idiota, era capaz de calcular num minuto (um minuto e quinze segundos exatamente) o número de segundos que há em trinta e nove anos, três meses e doze horas, sem esquecer os anos bissextos. Igualmente era capaz de extrair raízes quadradas de cor.
Ele descobriu instintivamente, inconscientemente, o método simplificado dos "iniciados". 
Com talento e um pouco de sorte, o método pode ser descoberto inclusive conscientemente. R. Quinton, filósofo, como conseqüência de uma acalorada discussão a propósito dos cavalos de Elberfeld, descobriu este método simplificado a que aludimos. E, em 1912, extraía ele mesmo, de cor, em dois segundos, as raízes de números de muitíssimos algarismos diante dos membros da Faculdade de Filosofia de Paris. Os sábios filósofos acreditavam que se tratava de um calculador prodigioso, mas o mesmo Quinton explicou que se tratava simplesmente de um método, muito simples, e que sozinho chegara a descobrir com base no que conhecia dos cavalos. 
Que o método não é muito difícil de aprender, se compreenderá sabendo que para minhas demonstrações quando atuava como mágico, e para algumas palestras públicas sobre este tema foi sempre um menino a quem ensinei a extrair raízes cúbicas e quintas de números até dez bilhões e que o menino as extrai de cor e com tal rapidez que nem tempo dá a que escrevam os números que lhe ditam. No Brasil e Argentina apresentei os irmãos Paulo César e Gerson Sperb Scherer, de 12 e 11 anos (em 1961), de São Leopoldo (RS). 

OUTRAS DIFICULDADES 

Ora, deu-se que um destes cavalos realizou, certa vez, seus "cálculos" e deu as respostas na ausência de todos, sendo só observado por uma pequena janela. Como admitir aqui a explicação por sinais inconscientes dados pelos espectadores? 
"O Cavalo que fala", acusado
de consórcio com o Diabo!! Na
França do século XVII.
O caso não oferece dificuldade insolúvel. Estamos precisamente falando da percepção hiperestésica de sinais. Aqueles animais eram muito sensíveis. Captar os sinais através de uma pequena janela não é aumentar excessivamente a dificuldade, posto que os sinais inconscientes se difundem por todo o corpo e cada uma das suas partes. Fica pelos menos todo o rosto do observador para transmitir o sinal visual. Para sinais auditivos, por exemplo, a dificuldade é ainda menor. E há outros tipos de "emissões"...
E o cavalo Muhamet que foi observado pelo Dr. Maeterlinck em grande escuridão? Se a escuridão não era o bastante para impedir as observações de Maeterlinck, menos impediria as observações do cavalo. E não se trata só de ver, mas também de ouvir, sentir, etc...
E o cavalo Barto, velho e cego? É maravilhoso, mas a questão é que a cegueira, mormente de nascença, não impede a "visão", como já estudamos no artigo anterior. (Não se trata de vista propriamente dita, mas de toda classe de sensação hiperestésica). 

MAIS ANIMAIS "INTELIGENTES" 

Conhecida ou suspeitada a solução das dificuldades, já foi fácil reproduzir o fenômeno. Alguns preparadores de cavalos conseguiram amestrá-los até igualar e inclusive superar os cavalos de Elberfeld. Houve vários, mormente nos Estados Unidos. 
Fizeram-se famosos os cavalos Lady e Black-Bear. A égua Lady também dava respostas corretas às perguntas feitas em chinês. O preparador do pônei Black-Bear fê-lo realizar, um dia, uma brincadeira. Perguntou ao cavalo a raiz quadrada de 841. Respondeu 49. Errado. Notado isso, o cavalo aproximou-se do seu treinador e, batendo para designar letras, formou a frase: "Você me amola".
Este pônei, porém, não foi ensinado mais do que a atender a seu treinador. Morto o preparador, o cavalo perdeu suas "misteriosas" qualidades. 
O Dr. Bechteref, e mais tarde o Dr. Flexor, de Moscou, estudaram um cachorro fox-terrier e outro são-bernardo. Numa ocasião o cachorro realizou a ordem prevista para a experiência... seguinte!
Precognição? Não, explica-se por hiperestesia por parte do cachorro dos reflexos fisiológicos provocados pela idéia da experiência que o experimentador pensava fazer depois.
Foram também muito famosos uma gata chamada Daisy e os cachorros Rolf, Lola, Awa, etc. 
Já na época mesma do cavalo Hans, uma cadelinha chamada Nora conseguia rivalizar com o cavalo. Emílio Rendich, um inteligente pintor italiano que vivia em Berlim e acompanhara admiradíssimo as experiências com Hans, terminou por suspeitar a explicação. Com paciência, conseguiu fazer aparentar que sua cadelinha Nora era capaz de ler, reconhecer as notas musicais, dar respostas inteligentes por meio de latidos. 
Ninguém percebia os sinais inconscientes, automáticos, que Rendich dava à cadela. Foi precisamente Rendich que orientou com estas experiências o Dr. Stumpf e os seus colaboradores para decifrar o mistério do cavalo Hans. 
Pouco depois far-se-ia também famoso um chimpanzé do Jardim Zoológico de Frankfurt, o chimpanzé Basso. 
Comprovou-se de novo que tudo se devia aos sinais inconscientes e mínimos fornecidos pelo guarda e dos quais o próprio guarda não tinha conhecimento: O treinamento do animal, feito ao começo talvez conscientemente, foi-se fazendo cada vez mais insensivelmente, até terminar por surpreender ao próprio treinador. 
É verdade que o primeiro animal que chamou a atenção dos cientistas foi Hans. Mas não se pense que o fenômeno seja absolutamente novo. 
Já o filósofo Le Gandre, por exemplo, nos fala de um outro cavalo exposto na feira de Saint Germain em 1832 e que depois percorreu outras feiras na França. O escritor Guer, que também refere o fato, descreve como o cavalo reconhecia cartas de baralho, somava os pontos dos dados, indicava as horas e minutos de um relógio, somava o valor das moedas que se lhe apresentavam... O sistema, como em Elberfeld, era o de bater com a pata no chão para dar as respostas.
O famoso cavalo Muhamed, treinado
pelo Sr. Krall, em Elberfeld.
O filósofo Le Gandre já dava então a solução. O cavalo era guiado pelos sinais mínimos dados pelo seu dono, ou pelos assistentes ao "prodígio", apesar de que os assistentes mesmos (e disto se maravilha Le Gandre) não percebiam esses sinais. 
Todo o assunto da inteligência dos animais calculadores, de telepatia animal, mediunismo e quantas outras teorias falsas e supersticiosas se aduziram para explicar os fatos, hoje deve ficar soterrado. O fenômeno pertence aos artistas dos circos. Marcel Sire, em 1954, com estilo violento concluía assim a questão: "Aí não há mais do que tolices e pilhérias de espertalhões. Hoje é difícil compreender como homens sérios deram prova de tão pouco talento". 
O próprio entusiasta dono dos cavalos de Elberfeld, embora começasse as "lições" pretendendo demonstrar a inteligência dos cavalos, teve de reconhecer, decepcionado, que eram absolutamente incapazes de toda invenção própria, só reproduzindo o que tinham treinado. Nem se esforçam, nem calculam, só enxergam ou sentem. E mesmo o alcançável pelo treino, tem um limite curto demais.
De tudo o que foi dito, há uma conclusão interessantíssima para nós: por hiperestesia os animais podem chegar a captar, indiretamente, certos pensamentos de uma pessoa, dar respostas a perguntas inclusive muito difíceis e até mesmo que não cheguem a ser formuladas. E isto, no escuro, observados através de uma janelinha pequena, mesmo um cavalo velho e cego. Poderão também alguns homens captar o pensamento dos seus semelhantes por hiperestesia indireta? É o tema para os próximos artigos.